Quarta-feira, 14 de Maio de 2008

Resultados dos Inquéritos

 

Antes de mais, achamos essencial caracterizar a população que foi sujeita a responder ao nosso inquérito. Caracterizámo-la segundo o género, a idade, a profissão, as habilitações literárias, o local de residência e o tipo de habitação onde vive. Achamos que, desta forma, poderíamos fazer um retrato geral da população que inquirimos.
Apresentamos, portanto, o retrato geral da população inquirida.
Dos inquiridos, 70% são indivíduos do sexo feminino e os restantes30% são indivíduos do sexo masculino.
Foipossível constatar que, maioritariamente, a população inquirida tem mais de 50 anos (perto de 48%) e em menor número estão os inquiridos com idades entre os 30 e os 50 anos (21%, aproximadamente).
Asactividades dominantes são, em termos decrescentes, os estudantes; as domésticas,os quadros médios e operários, os que não exercem qualquer tipo de profissão, o pessoal dos serviços, o pessoal dos serviços domésticos e, por fim, os quadros superiores. Evidenciamos que foram inquiridas pessoas que desempenham funções em todos os sectores, ainda que em proporções diferentes.
A maior parte dos inquiridos tem apenas o 1º Ciclo, seguindo-se os que não foram além do Terceiro Ciclo. Trata-se, portanto, de uma população com habilitações literárias não muito elevadas.
Mais de metade vive em Caneças, seguindo-se os de Casal de Cambra e, por fim, os de Casal Novo e Dona Maria. Também verificamos que mais de cinquenta por cento vive em vivendas ou moradias, o que nos leva a pensar que aí poderão ter a sua própria horta.
 
Foi nosso intuito averiguar o tipo de relação que a população Canecense tem com actividades relacionadas com a agricultura e o tipo de conhecimento que têm dessas mesmas actividades. Para os que não têm qualquer relação com actividades ligadas à agricultura, procurámos saber qual a vontade e predisposição que têm para o fazer.
A seguir, apresentaremos os resultados de cada uma destas questões.
Relativamente à participação em actividades ligadas à agricultura e ao conhecimento dessas actividades, concluímos os aspectos que se seguem:
- Há um número considerável de pessoas que continuam a dedicar-se a este tipo de práticas (32%);
- Cerca de um terço da população continua a ter um papel activo na prática de actividades relacionadas com a agricultura ou equivalentes, o que nos parece considerável. Para além disso, metade dos inquiridos responderam que conhecem directamente pessoas que dedicam um pouco do seu tempo às actividades próximas da agricultura.
Concluímos, assim, que a actividade agrícola, ainda que seja apenas no âmbito das já caracterizadas hortas urbanas, ainda é uma realidade com significado em Caneças. Este facto será tanto mais verdade quanto a maior parte da população que respondeu que estas actividades se fazem em quintais, hortas e jardins. As quintas e estufas foram referidas, mas em pequena escala.
Os produtos obtidos – fundamentalmente produtos hortícolas, flores e frutos – são quase todos para auto-consumo, o que reforça a ideia de que se trata de actividades complementares e não a principal actividade das pessoas.
Relativamente às pessoas que não têm a possibilidade de se dedicar a estas práticas, cerca de 60% “gostaria muito” ou “gostaria” de ter um contacto mais privilegiado com elas. Os restantes, que estão em minoria, não gostavam ou são-lhe indiferentes.
Este grupo de pessoas não ligado às hortas ou outras práticas equivalentes, na sua maioria (52%), não conhece, em Caneças, pessoas que desenvolvam este tipo de actividades. No entanto, quase metade afirmou que conhece mais de 3 pessoas e, desses, há um número considerável que conhece mais de dez pessoas, o que é muito significativo, numa zona em que a agricultura, enquanto actividade principal, há muito que praticamente deixou de existir.
As características das actividades desempenhadas por estas pessoas (as que são conhecidas e não as que conhecem) são em tudo semelhantes às anteriormente apresentadas: quintais, hortas e jardins, onde se produzem produtos hortícolas, flores e frutos para auto-consumo.
 
Na continuidade da análise, pretendemos verificar se as hortas urbanas ou agricultura urbana, segundo a opinião da população de Caneças, têm futuro, ou seja, será que poderão sobreviver na “selva de betão”? De que maneira as poderemos potencializar e viabilizar? São perguntas que quisemos ver respondidas.
A maioria dos Canecenses, perto de 80%, concorda com estas actividades.
As expressões mais escolhidas para avaliar a sua viabilidade e potencialidades em Caneças foram, na sua grande maioria, expressões que classificámos de positivas, pelo menos em parte: “poderão ser uma boa aposta para Caneças”, “são viáveis e devem ser incentivadas” e “são viáveis, mas difíceis de pôr em prática”. Foram poucos os que responderam que estas actividades “não são relevantes para o futuro de Caneças”.
Relativamente aos viveiristas, uma actividade bastante prestigiada e dinamizadora da nossa praça no passado, como já antes enunciámos, a maior parte da população não se recorda deles. É de salvaguardar a importância deste dado, uma vez que cerca de 60% dos inquiridos revela desconhecimento ou esquecimento duma actividade que já foi tão importante para a identidade canecense. No entanto, são cerca de 40% os que se recordam da actividade viveirista como algo pertencente à cultura e tradição de Caneças. Destes, quase todos “gostariam muito” ou “gostariam” que esta actividade voltasse a ser uma realidade.
 
Verifica-se, com o que acabámos de enunciar, que há uma vontade muito grande por parte dos habitantes de Caneças para que as actividades ligadas à agricultura sejam dinamizadas, o que dá muita força ao nosso projecto. Isto porque os destinatários deste mesmo projecto – os canecenses – parecem estar predispostos para o aceitar e, provavelmente, para aderir.
 
Durante a realização dos inquéritos, solicitámos aos inquiridos que nos dessem algumas sugestões sobre como valorizar as práticas ligadas à agricultura ou equivalentes e sobre alguns locais ou terrenos onde se possam praticar as mesmas.
Relativamente ao primeiro aspecto da questão, foi referida a necessidade de apoios financeiros e materiais por parte do Estado, da Junta de Freguesia e da Câmara Municipal; o aproveitamento de terrenos não utilizados; o incentivo à prática através de informação nas escolas e formação para os praticantes.
Em relação aos locais ou terrenos, obtivemos algumas respostas. Destacam-se o terreno abandonado ao pé do cemitério de Caneças, os terrenos ao lado da Escola Secundária de Caneças e a Quinta da Fonte Santa. Muitas das pessoas que mencionaram estes locais, acham que podiam ser aproveitados para estas práticas agrícolas, mas acham muito difícil que tal aconteça devido ao fraco interesse por “este tipo de vida”.
 
 
Esta última expressão refere-se, com certeza, ao facto de a agricultura ser, actualmente, uma actividade menos geradora de rendimentos, quando comparada com outras. O facto de as pessoas manifestarem desejo em poder praticar estas actividades, por um lado, mas referirem que é difícil de pôr em prática ou que não há interesse por “este tipo de vida”, por outro lado, reforça a ideia de que a nossa proposta não deve ir no sentido da agricultura em sentido restrito. Pelo contrário, o futuro de Caneças não passa pela agricultura. É, aliás, uma actividade profissional residual. O que está em causa é a dinamização de práticas próximas da agricultura, à semelhança dos já descritos jardins familiares ou hortas urbanas, ainda que, na nossa opinião, estes espaços devam ser complementados com outros, como espaços infantis, restauração, espaços de divertimento ou convívio e o que mais se lhe possa associar para atrair as pessoas.
 
Com a finalidade de obter mais algumas conclusões com base nos dados do inquérito, achámos pertinente cruzar algumas das variáveis nele contidas: género, idade, habilitações literárias, tipo de habitação e o facto de praticar ou não actividades ligadas à agricultura com o nível de concordância com as hortas urbanas, a opinião sobre as suas potencialidades e viabilidade, a vontade de praticar a actividade agrícola, a recordação dos viveiristas e a opinião sobre o seu regresso.
As tabelas de dupla entrada que construímos para poder fazer esta análise encontram-se em anexo. A partir da sua observação, é possível concluir o que se segue.
 
Tanto homens como mulheres concordam com a existência, em Caneças, de práticas ligadas à agricultura, embora as mulheres apresentem uma média ligeiramente superior.
Relativamente à opinião acerca da viabilidade e das potencialidades destas práticas, os pareceres não divergem muito de homens para mulheres. Tal como antes, também aqui há apenas uma ligeira postura mais favorável por parte das mulheres.
Apesar da postura ligeiramente mais favorável por parte das mulheres, os homens são, de entre os que não praticam qualquer actividade, os que mais gostariam de praticar, enquanto elas afirmaram que não gostariam de o fazer.
Em relação aos viveiristas, mais os homens do que as mulheres se recordavam deles. Contudo, são elas que mais gostariam de vê-los regressar.
 
Relativamente à idade, podemos concluir que não há muita assimetria no que diz respeito ao grau de concordância dos inquiridos com as hortas urbanas. A maioria concorda e não há grande discrepância entre idades.
Apesar de o grau de concordância ser elevado em todos os grupos etários, os mais idosos são quem mais pensa que são bastante viáveis e que devem ser incentivadas. Todos concordam, mas os mais novos não acreditam neste tipo de práticas.
Dos que não praticam estas actividades, os mais idosos são os que mais têm vontade de o fazer.
Como é óbvio, são os mais idosos que melhor se recordam dos viveiristas. No entanto, não manifestam maior vontade em que esta actividade seja retomada em Caneças, quando comparamos a sua opinião com a dos outros grupos etários.
 
Se formos avaliar os resultados tendo em conta as habilitações literárias, podemos afirmar que, independentemente do grau de escolaridade, a maior parte dos inquiridos concorda com a existência de hortas urbanas, mas os que apresentam valores médios inferiores, ou seja, com menor concordância, são os indivíduos com ensino secundário ou superior.
Relativamente à opinião sobre a viabilidade e potencialidades das práticas agrícolas, é possível afirmar que são os inquiridos com menos habilitações literárias que mais dizem considerar as hortas urbanas viáveis e com boas potencialidades para serem desenvolvidas. Pelo contrário, os inquiridos com mais estudos afirmam que o futuro de Caneças não depende delas.
São também os que têm menos habilitações literárias, os que mais gostariam de praticar actividades ligadas à agricultura (com excepção do 2º Ciclo).
Em relação ao conhecimento da existência dos viveiristas, é possível afirmar que são os inquiridos com instrução inferior ao 2º Ciclo que mais se recordam dos viveiristas e, em contraste, os indivíduos que menos os conheciam têm escolaridade superior ao 3º Ciclo. Podemos afirmar ainda que são as pessoas com nível de instrução mais baixo que mais desejam o regresso dos viveiristas.
 
No que se refere ao tipo de habitação, não há grande diferenciação entre pessoas que vivem em vivendas e em apartamentos, pois ¾ de cada indicador concordam com a existência das hortas urbanas. Em termos médios, diríamos que são os moradores de apartamentos que quem menos concorda com estas práticas.
Ao nível da opinião sobre a viabilidade e potencialidades, as diferenças são muito pouco significativas.
Relativamente à vontade de praticar, pode ser afirmado que os inquiridos que residem em apartamentos têm mais vontade de praticar do que os que moram em vivendas.
Relativamente aos viveiristas, as diferenças são reduzidas. Refira-se, no entanto, que são as pessoas que moram em vivendas que menos se recordam dos viveiristas, mas quem mais gostariam de assistir ao seu regresso.
 
São os que já praticam actividades ligadas à agricultura que mais concordam com a sua existência em Caneças e, apesar de a população estar bastante dividida, consideram-na viável e defendem que deve ser incentivada.
Quem pratica estas actividades é quem mais se recorda dos viveiristas e deseja o seu regresso.
 
Sob a forma de síntese poderemos dizer que as mulheres, no geral, são quem mais concorda e quem mais gostaria de ver os viveiristas regressar, mas, de entre os indivíduos que não estão ligados às práticas próximas da agricultura, são elas que menos gostariam de praticar estas actividades.
Por idades, há um grau de concordância semelhante entre os grupos etários, mas, de entre os que não estão relacionados com estas práticas, os mais idosos são quem mais gostaria de as desenvolver.
Os indivíduos com menos habilitações literárias aderem mais à ideia de existirem estas actividades. Dos que não praticam também são os que mais desejam fazê-lo. Isto apesar de a atitude dos que possuem o ensino superior ser mais positiva que a dos que possuem ou frequentam o ensino secundário.
Quanto ao tipo de habitação, destaca-se o facto de os que vivem em apartamentos e não praticam estas actividades terem mais vontade de o fazer.
Os que já praticam estas actividades são os que mais concordam com a sua existência e mais desejam o regresso dos viveiristas.
 
 
No final desta análise, do conjunto dos resultados conseguidos, para além da ideia de que os canecenses, no geral, assumem uma vontade positiva em se ligar à agricultura urbana, há outras questões a reter, por nos parecerem ter um significado especial para o nosso projecto. Apresentamo-las, por isso, a seguir.
 
O facto de os mais jovens não estarem tão virados para o desenvolvimento de práticas ligadas às hortas urbanas, leva-nos a suspeitar, pelo menos quando fazemos esta análise, da sua viabilidade no futuro, a não ser que estas mesmas práticas sejam pensadas em termos muito mais modernos e não na simples prática agrícola, tal como no passado se fazia.
 
As constatações relacionadas com o facto de serem as pessoas com mais idade e com menos habilitações que têm uma atitude mais positiva face às questões que levantámos, levam-nos a pensar, pelo menos numa primeira análise, que, para que se intensifiquem as actividades ligadas à agricultura em Caneças, é necessário desenvolver campanhas de sensibilização junto dos mais jovens e com mais habilitações. Este facto leva-nos a defender, mais uma vez, a necessidade de pensar neste tipo de práticas em termos muito mais modernos, com aspectos capazes de ir ao encontro dos valores destas categorias mais resistentes, mas determinantes para o futuro. Será fundamental, neste caso, associar as hortas urbanas e as actividades afins a valores ligados à ecologia, ao lazer, ao desporto, ao convívio, à dimensão estética e à criatividade (no campo da jardinagem, por exemplo), às artes (como a poesia ou a escultura)…
Uma curiosidade a reter, por ser relevante neste aspecto, é o facto de os inquiridos do Ensino Secundário terem valores inferiores aos do Terceiro Ciclo, mas também inferiores aos do Ensino Superior (com excepção para a opinião sobre o regresso dos viveiristas). Por um lado, estes menores valores poder-se-ão dever ao facto de alguns dos alunos do Ensino Secundário, por se encontrarem numa fase do seu desenvolvimento com características muito específicas – a adolescência –, não valorizarem estas práticas; por outro lado, alguns dos indivíduos com Ensino Superior terão, entretanto, adquirido uma atitude que tende para a sua revalorização. O facto de os do Ensino Superior apresentarem o menor valor no que se refere ao regresso dos viveiristas, leva-nos a admitir esta última hipótese. Provavelmente valorizam este tipo de actividades, ligadas às hortas urbanas, mais por razões associadas ao lazer, à ecologia, à agricultura biológica, do que por razões de ordem económica, ou seja, como profissão.
 
A constatação de que são as pessoas que vivem em apartamentos e que não desenvolvem estas actividades quem mais gostaria de o poder fazer, provavelmente pela maior distância que têm delas e pelo facto de os seus espaços de habitação serem mais fechados, reforça uma das nossas questões levantadas, logo no início do desenvolvimento do projecto – a do “excesso de urbanização”. Por isso, parece-nos viável a criação de um espaço colectivo onde este tipo de pessoas possa dar asas à sua vontade de aproximação da natureza através do desenvolvimento das actividades de que estamos a falar.
Um espaço público que possibilite o convívio e crie condições para momentos de descontracção seria atractivo e motivaria com certeza estas práticas.
Para além disso, uma nova actividade desta envergadura poderia trazer algum prestígio para a Vila de Caneças.
publicado por canecaspartidas às 21:05
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